quinta-feira, 8 de setembro de 2011
Devaneio...
Todos nascemos em circunstâncias que nos seriam favoráveis se nunca as abandonássemos. A natureza quis que para vivermos felizes não precisássemos de grandes equipamentos: cada indivíduo pode tornar-se feliz. Os bens externos são de importância trivial e sem grande influência em qualquer direcção: a prosperidade não eleva o sábio, nem a adversidade pode abatê-lo, porque trabalhou sem cessar a juntar tudo quando pôde dentro de si e a procurar a sua alegria no seu íntimo. E então? Estou a considerar-me sábio? De modo nenhum, porque me proclamaria o mais feliz de todos, sendo quase igual a Deus. Até agora, fazendo o suficiente para aliviar todas as minhas dores, não fiz mais que entregar-me nas mãos dos sábios e, sendo demasiado fraco para defender-me sozinho, procurei refúgio no campo daqueles que facilmente defendem o seu corpo e os seus bens. Estes são os que me aconselharam a permanecer constantemente de pé, como sentinela, a prever todos os ataque e investidas da fortuna, muito antes da sua manifestação. Ela cai pesadamente sobre aqueles a quem apanha desprevenidos: aquele que está vigilante, facilmente a vence. Assim, o inimigo, ao chegar, derruba aqueles que encontra desprevenidos, mas os que se preparam antes da guerra para a batalha eminente, dispostos e ordenados, aguentam sem dificuldade o primeiro choque, que é o mais violento. Nunca confiei na fortuna, nem mesmo quando parecia estar em paz comigo. Todos os favores com que me bafejou, riquezas, honras, glórias, releguei-os para um local onde ela poderia recuperá-los sem me perturbar. Estabelecei uma grande distância entre essas coisas e eu, razão pela qual mas arrebatou sem mas arrancar das mãos, Só é abalado pelos golpes da fortuna quem primeiro se deixou enganar pelos seus favores. Os que amam os favores como se fossem seus para sempre, que querem sempre ser admirados por conta deles, são abatidos e afligidos quando os prazeres falsos e transitórios abandonam a sua alma oca e frívola, ignorantes dos prazeres estáveis. Mas quem não incha com a prosperidade não fica consternado com os reveses, quando a adversidade chega. A sua força já foi testada e ele mantém um espírito inquebrantável perante qualquer situação: porque, no meio da prosperidade, testou a sua força contra a adversidade. Assim, nunca acreditei que houvesse algum bem genuíno nas coisas que todos louvam; mais ainda, tenho-as considerado vazias e adormecidas com cores vistosas e enganadoras sem conteúdo correspondente à sua aparência. Naquilo a que chamam males, não encontro nada tão terrível e espantoso com que me ameaça a opinião do vulgo. A própria palavra “exílio” entra agora nos ouvidos com mais aspereza através de uma espécie de convicção e crença popular e atinge o ouvinte como algo de sombrio e detestável. Esse é o veredicto do povo, que se deixa levar pela primeira impressão das coisas, mas os sábios no seu todo rejeitam os decretos populares…
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